Do planejamento à execução, cada decisão tomada dentro da cabine pode ser o divisor entre a segurança de voo e uma ocorrência grave. Embora o público muitas vezes associe acidentes a falhas mecânicas, a verdade é que a maioria deles nasce de falhas humanas — especialmente de decisões equivocadas durante o voo.
Essa reflexão foi o ponto de partida da 1ª Masterclass NexAtlas, que contou com a presença do especialista em segurança de voo David Branco. A aula trouxe lições valiosas sobre os erros mais comuns de julgamento e sobre como a tecnologia pode ajudar pilotos a tomar decisões mais seguras e conscientes.
Nesse artigo, vamos destrinchar as temáticas debatidas durante aula e aprofundar sobre como evitar falhas humanas que podem custar caro.
O fator humano e a ilusão do “acima da média”
Um dos maiores riscos à segurança de voo é o excesso de confiança. Muitos pilotos acreditam ter habilidades acima da média, quando, na verdade, todos estamos sujeitos aos mesmos vieses cognitivos.
Segundo uma pesquisa citada por David Branco, 80% dos pilotos se consideram melhores do que a média — algo estatisticamente impossível. Essa percepção distorcida pode levar à complacência e à quebra de barreiras de segurança. Afinal, quando o piloto acredita estar imune ao erro, ele tende a relaxar nos procedimentos, ignorar limites e se expor a riscos desnecessários.
Por isso, reconhecer essa vulnerabilidade é o primeiro passo. A humildade operacional, ou seja, entender que sempre há algo a aprender e revisar, é uma das maiores aliadas da segurança de voo.
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Nove falhas quem ameaçam a segurança de voo
Com base na experiência de centenas de investigações, o comandante Branco reuniu as nove falhas de decisão mais frequentes na aviação geral. Conhecê-las é fundamental para evitá-las:
Tentar voltar à pista após falha de motor: a manobra de retorno imediato quase sempre termina em estol ou parafuso. Portanto, o pouso controlado à frente é, na maioria das vezes, a opção mais segura.
Prosseguir VFR em condições meteorológicas adversas: insistir em continuar o voo visual quando o tempo fecha é uma das principais causas de perda de controle e colisão com o terreno.
Ultrapassar mínimos IFR: atingir a altitude mínima de descida sem contato visual exige arremeter. Por isso, ignorar esse limite pode comprometer a segurança.
Voar com excesso de peso ou balanceamento incorreto: isso afeta diretamente o desempenho e a estabilidade da aeronave.
Não planejar a distância de pouso: sem esse cálculo, o risco de excursão de pista aumenta drasticamente.
Subestimar o desempenho com um motor inoperante: em aeronaves leves, perder um motor pode tornar o voo instável e perigoso.
Fazer manobras para exibicionismo: voos rasantes e decolagens “americanas” são atitudes que ferem princípios básicos de segurança.
Confundir habilitação IFR com proficiência IMC: estar habilitado não significa estar preparado para enfrentar condições instrumentais severas.
Ceder à pressa ou à pressão externa: o desejo de “chegar logo” é inimigo da segurança.
Esses comportamentos têm algo em comum: todos envolvem decisões. E, portanto, podem ser evitados com disciplina e preparo.
O que está por trás do erro?
Compreender por que decisões equivocadas acontecem é essencial para preveni-las. Muitos desses erros não vêm da falta de conhecimento técnico, mas de fatores psicológicos sutis que afetam o julgamento.
1. Complacência
A rotina pode ser perigosa. Pilotos experientes, por voarem rotas conhecidas, tendem a relaxar nos procedimentos. O caso de um Gulfstream G4 que decolou com os comandos travados ilustra bem isso: em 173 dos 175 voos anteriores, a tripulação havia ignorado o cheque de superfícies de comando.
2. Fixação no objetivo
Quando o desejo de “chegar ao destino” supera o bom senso, o risco aumenta. Um acidente com um Embraer Xingu, que tentou prosseguir até Angra dos Reis em condições meteorológicas severas, mostrou como essa fixação pode cegar o julgamento e, portanto, levar à tragédia.
3. Pressa
A pressa degrada o desempenho e faz pilotos pularem etapas. Um ATR 42 na Venezuela colidiu com o terreno porque a tripulação decolou antes de o sistema de navegação alinhar corretamente — uma diferença de apenas 28 segundos que custou 46 vidas.
4. Pressões externas
Por fim, há a pressão de atender à conveniência de passageiros ou patrões. O caso do King Air B300 que tentou pousar em um aeródromo VFR à noite, em vez de alternar para Porto Seguro, mostra como a busca pela conveniência pode se sobrepor à segurança.
Superar esses riscos exige uma abordagem dupla. Primeiro, é preciso fortalecer a disciplina operacional. Depois, usar tecnologia para apoiar decisões seguras. Seguir procedimentos, resistir à pressa e manter o foco em cada etapa do voo são atitudes que salvam vidas.
NexAtlas: tecnologia a serviço da segurança de voo
A NexAtlas nasceu para descomplicar o planejamento e tornar a navegação aérea mais segura, reunindo dados e ferramentas que reduzem erros humanos. Confira como a plataforma auxilia e ajuda a reduzir a carga cognitiva do piloto:
Combate à pressa: ao reunir cartas, NOTAM, Rotaer e dados meteorológicos em um só lugar, a NexAtlas reduz a carga de trabalho e o risco de esquecimento.
Prevenção do voo VFR em IMC: com imagens de satélite, radar, SIGWX e SIGMET, o piloto visualiza as condições antes mesmo de decolar.
Aumento da consciência situacional: informações de aeródromos, espaços aéreos e áreas restritas estão disponíveis de forma clara e georreferenciada, inclusive offline.
Tomada de decisão mais assertiva: com dados confiáveis e acessíveis, o piloto pode concentrar sua atenção em avaliar riscos e agir com segurança.
Esses recursos não substituem o julgamento humano, mas o fortalecem. Eles atuam como uma segunda camada de proteção, ajudando o piloto a manter a consciência situacional e a disciplina em cada etapa do voo.
Voar em segurança é uma decisão contínua
Ter um voo tranquilo e seguro não é sorte, é o resultado de centenas de pequenas decisões tomadas antes, durante e após cada voo. Os erros mais comuns na aviação não surgem da falta de técnica, mas da falta de vigilância sobre o próprio comportamento. Manter a disciplina, reconhecer limitações e usar a tecnologia como aliada são atitudes que constroem uma cultura de segurança sólida e duradoura.
A NexAtlas acredita que cada piloto tem o poder de tomar decisões melhores e mais seguras. Ao unir planejamento inteligente, informação confiável e prática consciente, é possível transformar cada voo em uma experiência mais segura.