Atualizado em 31/07/2020 às 12:00h
Nos últimos dias, postagens em redes sociais e notícias a respeito de problemas mecânicos em aeronaves que teriam se originado após o abastecimento com lotes contaminados de AVGAS se avolumaram. Atenta a essa situação, a NexAtlas preparou um compilado de informação para servir de fonte segura e atualizada a respeito dos desdobramentos das investigações a toda a comunidade aeronáutica.
01 — Linha do Tempo
02 — Recomendações para operação
03 — O papel da NexAtlas
04 — Observações
01 — Linha do tempo
07 de julho
Em 07 de julho a AOPA encaminhou um ofício à ANAC, denunciando possíveis problemas com a qualidade do combustível em vários pontos do país. Esse é mais um episódio problemático de uma série envolvendo o AVGAS. Em 2018 após a suspensão de sua produção pela Petrobras devido a reformas na refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP) houve um período de escassez do produto; já no final de 2019 a AOPA levantou a possibilidade da presença excessiva de compostos de chumbo, análises posteriores teriam revelado níveis levemente alterados, mas dentro das especificações.
08 de julho
Um Beechcraft Baron 58, prefixo PR-OFI caiu próximo ao Campo de Marte no dia 08 de julho, vitimando seu piloto. Apesar das investigações a respeito do acidente — a cargo do Seripa IV — ainda estarem na fase inicial, o fato do piloto ter tentado um pouso de emergência por conta de uma falha de um dos motores instantes antes da queda provocou especulações a respeito da possibilidade do acidente ter sido motivado por uma falha mecânica.
Desde ao menos uma semana antes do acidente, circulavam em redes sociais postagens relatando vazamentos nos componentes do sistema de alimentação de combustível. Aparentemente, o AVGAS estaria corroendo as vedações, revestimentos e outros componentes — principalmente os não metálicos — do sistema. Uma falha dessa natureza, pode, em certas condições, levar a panes como a sofrida pelo BE-58, com consequências catastróficas. E mesmo em casos em que o problema foi detectado precocemente, os prejuízos por conta da substituição das peças e de todos os serviços de manutenção são consideráveis.
09 de julho
No dia 09 em resposta à AOPA, a ANAC publicou um boletim especial de aeronavegabilidade alertando dos potenciais riscos do combustível e com recomendações para inspeções pré voo mais rigorosas e manutenções. No caso de se ter abastecido com o combustível suspeito de contaminação, o responsável pela aeronave deveria procurar uma oficina de manutenção aeronáutica credenciada para uma avaliação mais detalhada. Ao receber esse tipo de caso, as oficinas deveriam informar o ocorrido ao Sistema de Dificuldade em Serviço (SDR) da ANAC.
A AOPA avaliou recomendar a interrupção da operação das aeronaves com indícios de inconformidades. Na mesma nota sugeriu que em caso de problemas, eles deveriam ser documentados, mantendo-se um registro de onde e quando foram realizados os últimos abastecimentos; e fotografando componentes que podem ter sido deteriorados pelo combustível.
10 de julho
Em 10 de julho a ANAC e a ANP criaram um grupo de trabalho conjunto para apurar as denúncias de irregularidades. Ficou a cargo da ANP coletar e analisar amostras em diferentes pontos da cadeia distribuidora em vários estados.
A AOPA anunciou que iria iniciar um mapeamento dos casos de possíveis adulterações, em parceira com BGAST ( Brazilian General Aviation Safety Team) lançaram um formulário para coletar informações dos responsáveis pelas aeronaves.
11 de julho
No dia 11 uma ação coordenada entre Polícia Civil, ANP e Anac realizou buscas no posto de abastecimento do aeródromo de Goiânia — GO, coletando amostras de combustível para análise, após a denúncia de que aviões que abasteceram no local apresentaram problemas mecânicos.
Ainda no mesmo dia a Petrobras reconheceu oficialmente o problema e interrompeu o fornecimento de um lote AVGAS. Em nota, limitou-se a dizer que“identificou que este lote apresentou um teor de compostos aromáticos diferente dos lotes até então importados”. Segundo a empresa, desde 2018 todo o combustível de aviação comercializado provêm de fornecedores estrangeiros e é testado previamente para garantir sua qualidade.
A ANAC divulgou uma primeira estimativa dos casos de contaminação, 44, a serem analisados.
12 de julho
Em 12 de julho a AOPA representou, junto ao PGR (Procurador Geral da República), solicitando ao poder público intervenções pontuais para resolver o problema, incluindo investigações a respeito das causas da contaminação e suspensão da venda dos lotes suspeitos. Também encaminhou uma petição à Petrobras requerendo informações a respeito da procedência do combustível e de sua distribuição. Ainda no mesmo dia, adotou a recomendação de manter em solo todas as aeronaves até que houvesse mais clareza sobre as consequências e soluções dos problemas já conhecidos com a qualidade do AVGAS.
A Raízen suspendeu a comercialização do AVGAS a espera de esclarecimentos da Petrobras a respeito da extensão da contaminação.
13 de julho
Os casos em investigação pela ANAC subiram para 73.
A ANP recomendou que os revendedores entrassem em contato com os distribuidores para verificar se o produto que adquiriram e têm em estoque faz parte do lote em análise, em caso positivo a venda do combustível seria suspensa. Além disso, os distribuidores deveriam adotar uma nova forma emitir laudos que atestassem a qualidade do AVGAS.
A BR distribuidora, a exemplo da Raízen também suspendeu as vendas à espera de novas informações.
14 de julho
Aeroclubes como o de São Paulo e aeroportos como o de Piracicaba suspenderam as atividades.
A BR retomou a comercialização do AVGAS após receber informações sobre a localização do lote com irregularidades.
16 de julho
Um novo comunicado a ANAC contabiliza 92 casos suspeitos em 46 aeródromos.
Em reunião com executivos da Petrobras, a AOPA foi informada que estudos iniciais feitos pela companhia mostraram níveis inferiores de compostos aromáticos no lote suspeito, ainda segundo ela, essa alteração poderia levar a degradação de componentes elastoméricos e poliméricos do sistema de combustível.
17 de julho
Uma reportagem exclusiva da Band mostrou que o lote afetado de AVGAS provém do Golfo do México. Ele foi trazido ao Brasil por um navio de bandeira panamenha identificado como Samba, que aportou em Santos no dia 23 de abril com aproximadamente 5700 toneladas do combustível. A Petrobras teria ciência, antes da sua distribuição, que a remessa apresentava uma densidade inferior à usual. Por norma, ela deve ser superior a 700g/l.
19 de julho
A AOPA manifesta que, mesmo após a retomada das vendas de um novo lote de AVGAS, ainda há pontos a serem esclarecidos sobre o ressarcimento de danos e a segurança operacional.
Em outra nota nota, cita um teste de massa específica. Caso a densidade do combustível esteja abaixo de 701 kg/m³ (701 g/l) há uma grande possibilidade dele pertencer ao lote problemático. O teste entretanto não é conclusivo, pois, dentre outros motivos, a diferença de massa específica do AVGAS dentro das normas e o supostamente contaminado (caso esteja diluído) pode ser muito pequena, dificultando sua detecção. A própria AOPA esclarece que o teste é só uma referência, e não valida a operação de aeronaves com suspeita de terem sido abastecidas com o AVGAS contaminado.
20 de julho
Em última atualização do report , somam-se 108 relatos em 49 aeródromos distintos. São Paulo, Minas Gerais e Goiás são os estados com mais casos.
02 — Recomendações para operação
Em um momento como esse é importante seguir as indicações das autoridades competentes. Até o momento a ANAC recomenda aos:
Operadores aeroportuários: entrar em contato com seus fornecedores de AVGAS para mais informações e identificação do lote suspeito. Em caso de identificação positiva, suspender imediatamente o uso.
Proprietários e operadores de aeronaves: realizar antes de cada voo uma inspeção visual dos componentes do sistema de combustível, caso identifique quaisquer indícios de corrosão, ressecamento ou vazamentos, não levantar voo com a aeronave. O caso deve ser relatado imediatamente à ANAC e procure uma organização de manutenção de produto aeronáutico para que sejam tomadas as medidas preventivas ou corretivas adequadas. Acesse e preencha o formulário para reporte .
Responsáveis pelas oficinas de manutenção aeronáutica: Ao receber esse tipo de caso, informar imediatamente ao Sistema de Dificuldade em Serviço (SDR) da ANAC.
Além delas, merece atenção a série de recomendações publicada pela AOPA.
03 — O papel da NexAtlas
A NexAtlas vem acompanhando de perto a situação desde que se despontaram os primeiros indícios de irregularidades.
Nos posicionamos para oferecer uma fonte segura de informações, compilando e disponibilizando o que foi comunicado por órgãos oficiais e autoridades responsáveis.
Ainda, lançamos uma nova funcionalidade temporária em nossa plataforma. Com um clique sobre o ícone destacado em amarelo o usuário pode ver os aeródromos em que se têm registro de denúncias de AVGAS fora dos padrões. Essa função é atualizada toda vez que a ANAC publica uma nova listagem.
OBS: A funcionalidade foi descontinuada em 28 de julho, devido à substituição progressiva do estoque nos distintos pontos de abastecimento país afora. Alertamos que tal crise vivenciada pelo mercado não está completamente resolvida e orientamos aos pilotos e operadores que permaneçam atentos às respectivas recomendações da ANAC.
04 — Observações
- Apesar das especulações não há nenhuma correlação comprovada entre a queda do BE-58 e o problema do combustível. É necessário aguardar o encerramento das investigações para que se possa fazer qualquer afirmação a respeito;
- A Petrobras tem importado o combustível principalmente de fornecedores na região do Golfo do México e não da Venezuela;
- Não há qualquer indício, até o momento de problemas semelhantes com a querosene de aviação (Jet-A1);
- Caso se opte por retirar e conservar amostras, lembre-se que adulterado ou não o AVGAS é tóxico. Evite a inalação de seus vapores, o contato com a pele e siga todas as recomendações de segurança.
- O mesmo vale para o descarte, se feito de forma irregular além de contaminar o local pode ser enquadrado como crime ambiental.
Acompanhe essa postagem, ela continuará a ser atualizada conforme novas informações sejam disponibilizadas pelas autoridades.
Acesse já nossa plataforma para ver os pontos com suspeita de AVGAS fora dos padrões.
Compartilhe e faça a informação chegar a quem precisa.