Quais são os principais procedimentos necessários?
Por Vinícius dos Anjos Silva
O adequado planejamento de um voo aumenta significativamente a segurança da operação. Prova disso, são as estatísticas nacionais: 40% dos acidentes na aviação particular entre os anos de 2007 e 2016 tiveram como fator contribuinte o planejamento deficiente por parte do piloto.
Planejar é garantir o conhecimento prévio de todas as informações disponíveis referentes à atividade que se pretende realizar, preparando com antecedência um plano para as condições previstas e alternativas para situações inesperadas.
Pilotos podem utilizar uma variedade de recursos para planejar um voo, incluindo meios analógicos, digitais e o apoio de pessoal qualificado em determinados aeroportos nas chamadas Sala AIS.
As etapas deste processo podem variar conforme o tipo de operação, mas em geral são as seguintes:
- análise dos aeródromos;
- escolha da rota a ser percorrida;
- análise da meteorologia atual e prevista;
- cálculos de performance da aeronave;
- preenchimento e envio do formulário de plano de voo e,
- conferência da documentação necessária ao voo.
A seguir apresentamos a descrição de cada uma das etapas. Seja você piloto aluno ou já experiente, aproveite a oportunidade para refletir sobre os seus atuais procedimentos e garantir que está verificando tudo que é realmente necessário.
Passo-a-passo
Com relação aos aeródromos envolvidos (partida, destino e alternativa) o piloto deve inteirar-se das características gerais como coordenadas geográficas, elevação do campo, cabeceiras e comprimento da pista, além de tomar conhecimento dos serviços de apoio à atividade aérea disponíveis na localidade. Esta consulta é realizada utilizando-se o Manual de Rotas Aéreas (ROTAER) em papel ou em sua versão online, o ROTAER Digital.
Este é o momento ideal para entrar em contato com as empresas locais e confirmar serviços necessários, como o abastecimento da aeronave, por exemplo.
É importante atentar ao fato que podem existir informações que complementam ou alteram aquelas constantes no ROTAER. Estas informações, de caráter temporário ou permanente, são as Notice to Airman, ou NOTAM. A leitura dos NOTAMs dos aeródromos de partida, destino e alterantiva é indispensável. Exemplos são a exigência de permissão adicional para pousos e decolagens (SLOT), indisponibilidade de combustível no aeroporto ou o fechamento de uma pista devido a obras.
O piloto deve ainda estudar as cartas de aeródromo (ADC, AOC e PDC) e as cartas de saídas e aproximações visuais (VAC) ou por instrumentos (SID, STAR e IAC). O objetivo é familiarizar-se com os aeródromos, acostumar-se com as taxiways e procedimentos de chegada e saída vigentes, tomando conhecimento também das frequências de comunicação a serem utilizadas.
Deve-se aproveitar para esclarecer dúvidas e buscar detalhes que eventualmente poderiam passar despercebidos na consulta a essas informações durante o voo.
A próximo etapa do planejamento de um voo é a escolha da melhor rota a ser percorrida e para isso o piloto deve analisar o trajeto através das cartas de voo visual (WAC, REA e REH) ou por instrumentos (ENRCL e ENRCH). A visualização de imagens aéreas e mapas rodoviários, como aqueles disponibilizadas pela NexAtlas, atua de maneira complementar às cartas oficias, permitindo melhores referências visuais ao longo do percurso.
Pilotos são livres para escolher a rota que desejar, geralmente sendo aquela de menor distância entre dois pontos. Deve-se, no entanto, garantir a correta interação com corredores visuais, aerovias e espaços aéreos controlados e condicionados ao longo do caminho, o que pode provocar desvios consideráveis. No caso de voos por instrumentos, existe a possibilidade de rotas preferenciais já estarem definidas com o objetivo de padronizar o tráfego aéreo entre os aeródromos envolvidos e o piloto pode conferir essa informação através de NOTAM.
A análise da rota também deve levar em consideração o tipo de terreno sobrevoado e suas implicações (selva, mar, cadeia de montanhas e etc).
A seguir vem a consulta das condições meteorológicas atuais e previstas para os aeródromos e rota escolhida, composta pela leitura de reportes do tipo METAR e TAF, análise de imagens de satélite, cartas de prognósticos (SIGWX), descargas elétricas, ventos, turbulência e formação de gelo em diferentes altitudes, além de imagens de radar meteorológico, conforme disponível. Deve-se permitir que a análise meteorológica resulte em desvios na rota previamente escolhida para evitar condições indesejadas.
Uma vez definida a rota final, os aspectos operacionais da aeronave devem ser analisados. Essa etapa inclui cálculos de performance de decolagem, subida, cruzeiro, descida e pouso conforme dados determinados pelo manual de voo do fabricante. Estes cálculos permitirão ao piloto saber, por exemplo, qual a altitude ideal para o voo e se o comprimento de pista disponível nos aeródromos envolvidos é suficiente para pouso e decolagem nas atuais condições de peso da aeronave, pressão e temperatura atmosférica. Para completar o piloto deve ainda realizar cálculos de tempo de voo, consumo e quantidade ideal de combustível para o destino e alternativa, além de analisar o peso e balanceamento da aeronave.
Neste ponto, o piloto já possui todo o conhecimento necessário para formalizar sua intenção de voo através do formulário de plano de voo completo ou simplificado. O preenchimento e envio deste documento à autoridade aeronáutica garante que o voo contará com o apoio dos serviços de tráfego aéreo, como a eventual busca e salvamento caso se acredite que a aeronave tenha sofrido um acidente.
A conferência de toda a documentação necessária ao voo vem a seguir. O piloto precisa verificar se está levando todas as publicações aeronáuticas necessárias (como ROTAER e AIP-BRASIL) e se a aeronave possui todos documentos em ordem e horas disponíveis suficientes antes da próxima manutenção programada, além de não possuir discrepâncias em aberto relatadas em seu diário de bordo.
O planejamento pessoal também é parte do processo e, portanto, o piloto deve garantir que suas habilitações e certificado médico encontram-se vigentes, que transporta bagagem suficiente para pelo menos uma noite de estadia no destino (mesmo quando não há previsão de pernoite) e se leva dinheiro para eventuais despesas não planejadas. Planejar descanso e alimentação adequada antes do voo também são boas atitudes para um voo mais seguro.
Para fechar com chave de ouro, em voos cuja tripulação é composta por mais de um piloto, deve-se realizar de uma conversa (briefing) para debater as informações analisadas e garantir a coordenação total entre os envolvidos.
Como podemos melhorar
Apesar do acesso relativamente fácil às informações aeronáuticas, a realidade é que pilotos comumente deixam de planejar seus voos conforme descrito acima. É compreensível, afinal há muito o que se fazer ao longo da atividade aérea e nem sempre o relógio joga a favor do profissional.
Mas a atividade de planejamento de voo precisa ser uma questão de disciplina. Ou seja, jamais esquecida.
Por este motivo, a NexAtlas acredita em três pilares fundamentais para permitir melhores índices de voos corretamente planejados:
- redução do tempo necessário para encontrar e separar, de todo o resto, as informações que realmente são importantes para o voo,
- automatização dos cálculos e
- maior facilidade de interpretação de todo esse material.
Existe uma variedade de websites e aplicativos móveis destinados a entregar informação aeronáutica ao piloto brasileiro, mas ainda há de existir um com processo inteligente de entrega daquelas informações que o piloto realmente necessita em seu voo específico.
Nosso objetivo na NexAtlas é desenvolver esse processo. Queremos fazê-lo de modo intuitivo, que oriente o piloto nas diversas fases do planejamento do voo e reduza consideravelmente a carga de trabalho na execução da atividade. Seguimos investindo neste ideal!
Acompanhe nossas notícias! No próximo conteúdo compartilharemos um prático checklist para garantir que seus planejamentos sejam sempre completos.
Sobre o autor:
Vinícius dos Anjos é piloto comercial de avião formado em Ciências Aeronáuticas e possui 1.500 horas de voo primariamente na aviação executiva. É o idealizador da NexAtlas e assume a posição de Gerente de Produto no projeto, responsável pela elaboração de novas funcionalidades do aplicativo. Possui sugestões? Entre em contato: vinicius@nexatlas.com.